quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

​Entrevista para a GQ Magazine


A Beyoncé está pronta para vos receber agora. Desde a cadeira onde está sentada, na sala de reuniões do seu lustroso escritório no centro de Manhattan, à mesa redonda graciosamente composta por porcelana fina, guardanapos de pano, e sushi de Nobu, ela podia atirar algum edamame por cima do ombro e acertar nos seus dezasseis Grammys.

Ela é luminosa, com aquele sorriso perfeito e a pele café suave que brilha por baixo de um carrapito e franja loira. Hoje ela não está a mostrar o corpo bem definido que costuma mostrar em palco, nos vídeos e nestas páginas. Esta é a Beyoncé dos negócios, uma Beyoncé muitíssimo composta – na moda, elegante, responsável. Ela está a usar o trabalho de sete designers, entre eles Givenchy, Day Birger et Mikkelsen, Christian Louboutin, e Isabel Marant. Ela não se levanta – uma camera de vídeo já foi ligada e apontada ao seu rosto - por isso é cumprimentada à medida que se sentam.
Estão ali para falar no seu regresso após o nascimento do seu bebé (Blue Ivy, filha de Beyoncé com Jay-Z), que Beyoncé está a preparar à sua já clássica maneira: com um ataque relâmpago de cultura pop. Este mês, duas semanas depois de participar no intervalo do Super Bowl XLVII, ela vai estrear um documentário na HBO – algo como uma autobiografia visual – sobre ela própria e a sua família, e que ela própria financiou, dirigiu, produziu, narrou e é o foco principal. Afinal de contas esta é uma mulher que vendeu mais de 75 milhões de álbuns, acabou de assinar uma parceria de 50 milhões de dólares com a Pepsi (o seu rosto vai estar estampado nas latas do refrigerante), e irá em breve embarcar numa digressão mundial para promover o seu 5º álbum de estúdio, ainda não intitulado, para lançar no início de Abril. Quem não gostaria de saber como ela consegue fazer todo este trabalho?

“Trabalhei muito durante a minha infância para atingir este objectivo de aos 30 anos conseguir fazer o que quero”, disse. “Consegui cumprir esse objectivo. Sinto-me muito abençoada por estar nesta posição. Mas sacrifiquei muitas coisas, e trabalhei mais do que provavelmente a maior parte das pessoas que conheço, pelo menos na indústria da música. Por isso, tenho de relembrar-me de que o mereço”.
Sempre que ela quer relembrar-se de todo esse trabalho – ou de praticamente de tudo o resto que aconteceu na sua vida – tudo o que tem de fazer é atravessar o seu hall. Ali, do outro lado da sala de reuniões na qual está a ser entrevistada, está outra sala estreita que contém o arquivo oficial da Beyoncé, uma temperatura controlada, um armazém digital que contém todas as suas fotografias existentes, começando nas primeiras fotografias nas Destiny’s Child, o grupo de raparigas dos anos 90 onde esteve, todas as entrevistas que deu, todos os vídeos de todas as suas actuações, todas as entradas no diário que gravou enquanto olhava para a camara incorporada do seu computador portátil.
“Pára fingir que está tudo bem”, diz para si mesma num vídeo revelador enquanto olha fixamente para a camera. “ Se tens medo, tem medo, permite-te, liberta-te e segue em frente. Acho que preciso de ir ouvir “Make Love To Me” e ir fazer amor com o meu marido.”
O santuário intimista de Beyoncé também contém milhares de horas de vídeos privados, gravados por um “director visual” que filma praticamente todos os momentos em que está acordada, cerca de dezasseis horas por dia, desde 2005. Neste vídeo, Beyoncé usa o seu cabelo preso em cima, solto, com e sem franja. Maquilhada e sem maquilhada, podemos vê-la a abanar o seu famoso rabiosque em palco, a descansar no camarim, a cantar “Yellow” dos Coldplay para o Jay-Z num jantar romântico. Esta base de dados digital, organizada como a biblioteca da NBC, é um trabalho em desenvolvimento – a classificação, a data, e outras referências têm sido levadas a cabo há cerca de dois anos, e ainda irá levar alguns meses para que esteja completa.
“Esta sala” – que ela própria chama de “arquivo louco” – “é uma parte importante de tudo. Sabem, eu posso sempre dizer, ‘Quero aquela entrevista que fiz para a GQ’ e podemos encontrá-la.“ E ela pode, de facto, encontrá-la, porque na sala onde estamos sentados existe uma camera e um microfone que irá capturar não só as intervenções dela, mas também as nossas. Estas são as regras: antes de ver a Beyoncé, temos também anteriormente de concordar em viver para sempre no seu arquivo.

É sabido de que quando uma rapariga gere os seus gostos, como a Beyoncé o faz, consegue fazer com que ela seja ainda mais determinada para ser perfeita. A Beyoncé, como é óbvio, não vende apenas a sua música: ela vende a sua estatura icónica. Por isso quando está em digressão regressa todas as noites ao quarto de hotel com o DVD do concerto que acabou de dar. Antes de ir dormir, ela vê o concerto, critica-se a si mesma, aos dançarinos, o seu “cameraman”. Na manhã seguinte, todos recebem páginas com comentários.
“Uma das razões pelas quais me relaciono com o Super Bowl é que encaro os meus concertos como se fosse uma atleta”, disse. “Sabem quando eles se sentem para observar quem vão defrontar e os estudam? É assim que encaro isto. Vejo as minhas actuações, e gostava de apreciá-las apenas, mas vejo a luz que se atrasou. Eu vejo ‘Meu deus, aquele cabelo não funcionou’, ou ‘não devo fazer mais isto’. Eu tento aperfeiçoar-me. Quero crescer e estou sempre saciada por novas informações.”

Ela adora estar em palco porque é a única altura em que as suas autocríticas se silenciam. “Eu adoro o meu trabalho, mas é mais do que isso: eu preciso dele”, disse. “Antes de ser mãe era a única altura da minha vida, durante toda a minha vida, em que me sentia perdida”. Ela disse de forma positiva que quando o seu cérebro se desliga é, com toda a sinceridade, um alívio. Depois de se treinar a si própria, repetir os mesmos movimentos tantas vezes, ela pode então não pensar. “É como um apagão. Quando estou em palco, eu não faço ideia do que acontece. Perco-me.”


A irmã mais nova de Beyoncé, Solange (e uma famosa cantora por próprio mérito), diz que tem sido sempre assim: “Eu tenho muitas, muitas memórias de infância dela a ensaiar sozinha no quarto. Lembro-me especificamente dela retirar uma frase de uma música ou uma coreografia e fazê-la vezes sem conta até que ficasse perfeita e forte. Aos 10 anos, quando todos estavam prontos para dizer ‘ok, estamos cansados, vamos fazer um intervalo’, ela queria continuar – para aperfeiçoar e triunfar.”
É difícil acreditar naquilo que a Beyoncé se transformou tendo em conta que é uma rapariga tímida. Hoje em dia ela diz que a Sasha Fierce, o seu alter ego criado no seu primeiro vídeo a solo (“Crazy in Love” de 2003) para a obrigar a sair da sua própria concha, foi inteiramente integrado na sua personalidade. Uma parte de rapariga comum, outra de mulher do universo, Beyoncé exubera agora uma sensualidade que pode ser um pouco…intimidante. Ela é sem dúvida sexy, mas a sua eminência, a sua independência e a sua ambição fazem com que ela seja espectacular. A sua fascinação sobrecai na cruz dessa tensão – num equilíbrio entre querer o seu corpo curvilíneo e o saber de que ela provavelmente tem razão quando diz, retirando da canção”Bootylicious”, that you really aren't ready for all that jelly (que não estás pronto para todas essas curvas).
Antigamente, o que a tornava tão destemida era proteger a sua irmã mais nova. Solange lembra-se da forma que Beyoncé a defendia quando eram adolescentes. “Não consigo dizer-vos quantas vezes no liceu a Beyoncé ameaçou que lhes punha as mãos em cima se aqueles rapazes e raparigas me incomodassem”, disse Solange com um sorriso. Beyoncé disse que evoca a mesma temperatura para o seu feito e para o seu trabalho. “Eu gostava quando as pessoas me zangavam”, diz no seu documentário da HBO, lembrando-se da sua infância suburbana no Texas, que foi planeada na sua determinação de ser uma estrela. “Normalmente dizia ‘por favor, irrita-me antes das actuações’, eu experimentava tudo”. Tal como o Jay-Z diz à cerca de Beyoncé em “Déjà Vu”(2006) "She about to steam. Stand back." (Ela está prestes a ferrar-te. Afasta-te).

“Sabem que a igualdade é um mito, e por alguma razão, todos aceitam o facto de que as mulheres não  ganham tanto dinheiro como os homens. Eu não percebo a razão. Porque temos de ficar como suplentes?” disse no seu documentário que começa com a sua decisão em 2011 de cortar a relação de negócios com o pai. “Eu acredito firmemente que as mulheres devem ser financeiramente independentes dos seus parceiros. E sejamos sinceros: o dinheiro atribui aos homens o poder de domínio. Atribui-lhes o pode de definir valores. Eles definem o que é sexy. E os homens definem o que é feminino. É ridículo.”
“Quando escrevia as músicas das Destiny’s Child, era óptimo ser tão nova e ter esse tipo de poder. E a gravadora na altura não sabia que íamos ser tão bem sucedidas, por isso deram-nos todo o poder de decisão. E eu acostumei-me. O meu objectivo na vida é ser esse exemplo. E eu acho que , pelo menos assim o espero, que isso vá mudando e que outros artistas consigam ver isso. Porque faz sentido. É justo.”
Não faz sentido ser sensual, se outra pessoa segura na espátula e outra as chaves para abrir a caixa registadora. Mas conseguirem alcançar o vosso poder e utilizá-lo para vosso proveito? Bom, então não há limites. A camera de vídeo é para isso mesmo: ter a sua própria marca, o seu próprio rosto, o seu próprio corpo. Só então, e retirando outra letra das músicas da Beyoncé, “girls can rule the world”(as mulheres podem dominar o mundo). E não se enganem: a Queen Bey está confortavel no seu trono.
“Eu sei disso, sim, sou poderosa”, disse. “Sou mais poderosa do que a minha mente pode digerir e compreender”.

Tradução e Adaptação por CFOBPT

Se retirarem o texto desta página por favor não se esqueçam de atribuir os devidos créditos.


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